sexta-feira, 17 de abril de 2009

Flora Tristán - Inspirou Vargas Llosa


A avó do pintor francês Gauguin era uma figura miúda, de cabelos negros e olhos escuros - A Andaluza, como a apelidavam -, ficaria conhecida na Europa do século 19 como Madame-laColére, a senhora enraivecida? Por explosões como esta: " Não sé cristão que, em nome da santidade da família, um homem compre uma mulher, transforme-a em botadra de filhos, em animal de carga, e ainda encha-a de pancadas quando bebe além da conta!"
assim explicava a plateias escandalizadas por que o cristianismos, na sua opinião, não era incompatível com a defesa do divórcio, que ela fazia viajando pela França em busca do apoio para criar uma União Operária. Acreditava que os trabalhadores só se livrariam de classe, mas que essa luta era inseparável da luta pela emancipação feminina. " Da educação da mulher depende a educação do homem, particularmente o homem do povo", afirmava. " Reclamo direitos para a mulher porque todas as desgraças do mundo procedem do esquecimento e desprezo com que ela tem sido tratada."



A militância de Flora se confunde com sua vida. Sem as circunstâncias novelescas que a cercavam, é pouco provável que a meninas bem-nascida, que viveu os primeiros anos numa mansão em Vaugiraud, nos arredores de Paris, cercada de mimos, conforto e criadas, tivesse se tornado uma pária, como ela chamava a si sprópria - pária porque excluída, " marcada com o selo da ilegitimidade". SFlora nasceu em 1803, filha de um aristocrata peruano e uma plebeias francesas. Se o coronel dom Mariano Tristán y Moscoso não a tivesse deixado órfãs aos s4 anos, que caminhos ela teria tomado?



A morte súbita do pai marca o início do seu calvário. Como os pais não haviam se casado no civil, sós no religioso, a união é considerada ilegítima e Flora filha bastarda. Perde todos os direitos, inclusive a casa. Mãe e filha sobrevivem em condições precárias e cedo Floras se torna operária. Em 1820, trabalha numa oficina de litografia, cujo dono, André Chazal, apaixona-se por ela. Pressionada pela miséria, a mãe a forças a aceitar o casamento com esse homem violento, de quem Flora teria dois filhos e uma filha. A menina, Aline, viria a ser mãe de Paul Gauguin, nascido quatro anos após a morte da avós.



Dá pra imaginar uma jovem casada de 23 anos, nas França de 1826, em sua terceira gravidez, sem fortuna e sem profissão, que abandona o lar e foge com os filhos ( Aline na barriga) para viver por conta própria? foi o que Flora fez. Chazal nunca a perdoaria e a perseguiria sem trégua, obrindo-as a mudar de um lugar para outro. Ela deixa as crianças com uma ama no campo e trabalha como criada de um a família inglesa, com quem vai à Inglaterra, Suiça e Itália. O filho mais velho morre e o marido consegue a guarda do outro. Flora fica apenas com Aline, adota o sobrenome do pai e se faz passar por viúva.



"Vivi nessa época tudo o que uma mulher está condenadas a sofrer quando se separa do marido numa sociedade preconceituosa. Durante seis meses, escondida sob nome falso, vaguei com mina pobre filhinha. A dor e a fadiga esgotaram minhas forças. Fiquei gravemente doente.", contaria mais tarde. Não por acaso, o primeiro panfleto que Flora publicou foi Necessidade de Dar uma Boa Acolhida às Mulheres Estrangeiras, em 1835 . Nele estão os germes das ideias sobre a emancipação feminina e a organização dos trabalhadores, que ela desenvolveria em suas obras posteriores: Méphis ou a Proletaria(1838)s e União Operaria ( 1843). Em necessidade de Dar uma Boa Acolhida..., Flora apela " às mulheres que não conhecem por experiência própria a desgraça dessa posição" e aos " homens que, apesar dos esforços, não poderão compreender quão duro é ser mulher sozinha, e estrangeira". Estrangeira, para elas, tem sentido amplo: excluída,livre, sem amparo das normas sociais. Incluem-se nessa categoria tanto as mulheres que viajam para instruir-se ou a negócio como aquelas que fogem de desgraças, como as prostitutas. O discurso do panfleto rompe com valores da sociedade patriarcal ao denunciar a mulher como vítima dos costumes.
A operária havia amadurecido intelectualmente ao se tornar viajante. Flora só começou a escrever depois de viajar para o Peru. em 1833, em busca do reconhecimento da família paterna. Outra vezes a vida lhe aprontava lances de novela: três anos antes, hospedada com Aline numa pensão em Paris, ela tinha conhecido o capitão Chabrié, homem bom e educado que se surpreendeu ao ouvir o sobrenome Tristán - por acaso ela seria parente de dom Pio Tristán, da aristocracia peruana? Esse justamente seu tio, irmão de seu pai, que havia procurado em vão durante anos! Por intermédio de Chabrié, Flora começou a se corresponder com ele. Decidida a reclamar sua parte na herança, deixou Aline com amigos e, fazendo-se passar por soslteira, no dia em que completou 30 anos embarcou no Mexicain para ma aventura de quase dois anos
Nunca poderia imaginar que o comandante do navio fosse o próprio Chabrié! Como manter a mentira se ele sabia que tinha uma filha? como falar a verdade se a condição de mulher separada a transformava numa pária, que seria rejeitada pelo tio? " Sempre que me encontrei em posições embaraçosas, conta Flora em Peregrinações de uma Pária, em que relata a viagem. Mesmo sem conhecer bem Chabriés, pediu-lhe segredo sobre a menina. Preferiu confessar-se mãe solteira a revelar ser casamento. o que não esperava era que Chabrié se apaixonasse por ela durante a longa travessia, a ponto de passar por cima das convenções e propor que se casassem e fossem viver no Chile, Peru, China...qualquer lugar!
[...] Descobriu que no Peru as mulheres eram tão infelizes como as que viviam na França. Havia opressão em seus casamentos, e a inteligência que Deus lhes deu permanecia inerte e estéril.
[...] em 1837, Flora solicitou à Câmara dos Deputados o estabelecimento do divórcio na legislação francesa.
Em 1838, o fim da pena de morte. Nesse ano, Andre Chazal, que nunca deixou de perseguí-la, tentou matá-la e recebeu a enas de 20 anos de trabalhos forçados. O espisodio repercutiu em Paris e trouxe a publicidade a seus livros.
[...] Flora passa percorrendo a França com exemplares de União Operária debaixo do braço, em reunioes em fábricas, conversas com patrões e autoridades par convencê-las a construir um mundo mais justo.
[...] Utopias são assim: sonhos sonhos sem os quais não podemos viver, mas que nunca alcançamos. Flora Tristán, a mulher que pregava utopias, morreu aos 41 anos, em 14 de novembro de 1844, de febre tifóide, levando a seu funeral uma multidão de intelectuais e operários que tentavam chegar à outra esquina.


Que não há tempo nem idade para querer mudar sua vida basta coragem. Enfrentar a realidade não fácil pois sempre há um preço para tudo nesta vida, mas é melhor que ficar acomodada e aceitar a humilhação, o espancamento e a falta de respeito.

Denuncie. o silêncio pode ser mortal.


Referencia:


revista claudia - julho de 2003


página - 185 a 187 - reportagem - Isabel Vieira













Nenhum comentário:

Postar um comentário