quarta-feira, 6 de maio de 2009

Navalha na Carne


Na peça teatral navalha na carne, Plínio Marcos a meu ver quis mostrar as várias formas de comportamento entre homem e mulher, analisando do mais profundo do submundo colocando em cena uma prostituta, um cafetão e um homossexual, para dialogar sobre o que não se dialoga em casa. Ou a maneira cruel de como a mulher é tratada quando vai envelhecendo e 'perde' seus encantos da juventude.
O homem quando envelhece vai se tornando ainda mais 'garboso', mais garanhão, mais decidido a arranjar uma mulher que seja compatível com seu estado psicológico de adolescente aos quarenta anos. Daí aquela que foi sua companheira durante tantos anos se tornou insípida, inodora e invisível.

O triângulo que existe entre Neusa Sueli, Vado e Veludo retrata intensamente o cotidiano das 'Marias' que vivem relações parecidas. Na maioria das vezes ela não consegue quebrar esse círculo.

1- Neusa Sueli era boa enquanto trazia lucro para o cafetão. Em uma determinada parte da peça ele diz a ela que ela se tornou uma mulher feia, velha, que suas partes já estavam muito usadas, nojentas, que ela era bagaço daquilo que ela já foi e ele estava novo bonitão demais pra ficar em casa com ela. Aposto que tem um tanto de mulher que ouve isso sempre que o marido quer dar uma puladinha de cerca, ou casou sem gostar realmente dela. Coisas duras de se ouvir de um homem a quem você ama mesmo que ele não te ame, porque geralmente a mulher tem a generosidade de amar pelos dois. De achar que com o tempo ele muda e que no decorrer do seu amadurecimento ele vai reconhecer o esforço dela em estar ali ao seu lado, lutando, pelejando no dia-a-dia. E isso não acontece.

Lupercia casada há mais de vinte anos decidiu viver a vida dela depois que os filhos cresceram. Sabe ela diz que o marido bebe e joga todos os dias. Ele a deixa sozinha. Não e importa com ela. Ela sai para não ser amargurada e ficar desfiando tristezas e desgostos. Se produz vai a luta como se diz por aí e da forma que consegue tenta ser feliz para não se matar, nem cometer nenhuma outra loucura. Diz que não vai separar do marido. Até pouco tempo trabalhava que nem uma louca. Agora curte a vida porque diz que merece. Ah! não vai separar do marido porque quando ele morrer, 'Deus queira que isso aconteça' ela fica com a casa e a pensão e vai viver muito feliz. Porque ele não lhe deu o valor que era merecido.

2- Vado é um cafetão acostumado a ter tudo o que quer. Não tem escrúpulos, não por causa da sua profissão, mas por ser homem não dá valor as coisas. Muito objetivo e prático ele tem em Neusa Sueli a mulher em quem descarrega suas necessidades, não que a ame realmente. Ele a distrata, bate nela, maltrata e ela fica ali junto dele, porque de alguma forma ele é uma segurança. Na realidade seu engano mais doce ou amargo. É o círculo vicioso que não tem fim até que ele ponha um fim.

Arminda, casada com um caminhoneiro. Família de caminhoneiro. Não podia desviar sua sina da sua família. Eriberto viaja muito. Fica meses fora. Mas o mais interessante é que ele arranjou uma amante na sua cidade mesmo, nem teve a discrepância sde procurar uma mulher de lugar distante. Pegava ela na saída da cidade para levá-la nas viagens, enquando Arminda ficava em casa cuidando da filha. Uma companheiro de viagem do pai contou o que o marido dela estava fazendo. Decidiram pegar ele no flagra. E conseguiram. Ela bateu na garota. Fez um estardalhaço só. Quis separação. Ele contou a anedota que não vai fazer mais isso. Pediu perdão. Ela com seu coração generoso aceitou, afinal há tanto tempo juntos!

3- Veludo é o homem que gosta de homem, e que sabe como tratar um homem. Ele desafia Vado trata ele como quer. Diz verdade na cara dele. Vado ameaça bater nele e acaba caindo por cima dele. O que insinua que se Neusa Sueli o tratasse assim, talvez tivesse mais importância. Veludo chega a dizer que Vado tem desejos por ele. Vado fica nervoso e nada faz. Ele diz a Neusa sueli que ela não deve aceitar ser tratada daquela forma. Trazer dinheiro para casa para poder sustenta-lo era o cúmulo. Ela devia fazer dinheiro para ela e não dar dinheiro para ele sair com outras mulheres. Ela aceita as condições dele sem reclamar.

É aquela coisa que eu venho dizendo já faz tempo, nós acabamos perdendo terreno nesta área porque fazemos todas as vontades dos homens. Agindo exatemente como eles querem. Não que tenhamos que discordar em tudo, mas concordar com tudo também é desespero. É aquela coisa da relação onde as vontades dele têm que ser feitas senão as coisas podem piorar. Amiga casou sem ter certeza do que queria. Ele mais velho que ela uns quase vinte anos. Ela muito jovem com vinte e poucos anos. O casamento foi celebrado com pompas e circunstâncias. Ela trabalhando e ele também, mas quem fazia as despesas era ela. Tinha que limpar a casa. E ainda por cima tinha que aceitar as puladas de cerca dele. E uma velha fotografia da ex-namorada com quem ele não se casou mas não esqueceu dela, dentro da gaveta do criado. Os dois discutiam ardorosamente dentro e fora de qualquer lugar. Ele da civil. Ela morre de medo dele fazer alguma coisa com ela. Ele achou uma que aceitasse as suas condições sem reclamar.

Eu assisti a peça teatral, e vi ali encenada a vida de muitas mulheres. A maioria vive nesta condição. Não pensam em mudar porque foram condicionadas a viver sem vontade própria. Aceitar é mais fácil que lutar e mentir pra si mesma chega a ser um ato de misericórdia, aparentemente dói menos.

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