terça-feira, 14 de abril de 2009

Mulher de Malandro

Outro dia ouvi o seguinte relato:
Jonas estava indo trabalhar e a certa altura da sua caminhada até o trabalho deparou-se com uma discussão entre um casal na rua. Até aí tudo muito tranquilo, ao menos, porque discussões desse tipo a gente ve com frequência na rua.
Porém ele viu o cara bater na sua namorada, então como homem digno que é, Jonas resolveu interferir, pois onde já se viu um homem bater em um mulher!
Então mediante sua interferência a moça pediu a ele que não se intrometesse.
Assustado ante a fala da moça, indignado Jonas disse o seguinte:
- Estou indo para o meu trabalho, não tenho nada a ver com isso, tento ajudar você, porque não acho justo homem bater em mulher e você ao invez de agradecer diz pra eu não te ajudar!!! - virou para o rapaz e completou- Pode bater nela companheiro porque ela merece.
Não culpo Jonas por dizer isso. Agora a história da mulher de malandro nos remete ao pensamento de que mulher gosta de apanhar.
Será mesmo?!?
Outro relato:
Chico trabalha de carteiro, anda nas ruas todos os dias, vê de tudo e tudo vê. Passando por um certo local havia um casal discutindo. Coisa normal ou anormal, não sei bem dizer. Mas sei que de repente, não mais que de repente o rapaz plantou a mão na orelha da individua várias vezes. Chico grande e forte segurou o rapaz, para que não fizesse isso mais, pois é uma covardia, intentou chamar a polícia mas sabe o que ela disse? pasmem: - Solta ele, não faz nada de mal com ele!!! - Chico revoltado soltou o rapaz e disse a ele: " pode continuar batendo nela porque ela merece!!!!"
Na realidade as pessoas não vêem isso como um comportamento muito natural, pois presume-se que apanhar seja doloroso e que o paciente ou receptor na ação esteja sofrendo.
o obsceno não está no voyeurismo do espectador e sim no exibicionismo dos participantes, ou que uma ética da solidariedade só pode supor-se realizando o bem porque tem como pressuposto necessário o mal, isto é, a desigualdade e a injustiça sociais sem as quais parece não haver apelo a ações solidárias, as quais, enquanto imagens e, portanto, espetáculo, destroem o relacionamento convencional que conhecemos das portas pra fora das casas, porque da porta pra dentro sabe-se lá o que acontece.
Amor de malandro
Ismael Silva, Francisco Alves, Freire Júnior
Vem, vem Que eu dou tudo a você Menos vaidade Tenho vontade Mas é que não pode ser O amor é o do malandro Oh! Meu bem Melhor do que ele ninguém Se ele te bate É porque gosta de ti Pois bater-se em quem Não se gosta Eu nunca vi
Mulher de malandro, Heitor dos Prazeres; Mulher de malandro sabe ser Carinhosa de verdade Ela vive com tanto prazer Quando mais apanha A ele tem amizade
Está na hora, Caninha; Mulher danada Toma vergonha na cara Se você não toma jeito Dou-te uma surra de vara Já, já, Sinhô; Se essa mulher fosse minha Apanhava uma surra já, já Eu lhe pisava todinha Até mesmo eu lhe dizer "chega" Dá nela,Ary Barroso; Esta mulher há muito tempo me provoca Dá nela, dá nela É perigosa, fala mais que pata choca Dá nela, dá nela Só dando com uma pedra nela, Lamartine Babo; Mulher de setenta anos Cheia de desenganos Que usa 25 gramas De vestido na canela Só dando com uma pedra nela Mulher indigesta, Noel Rosa; Mas que mulher indigesta Merece um tijolo na testa
Algumas citações de músicas de cantores renomados que citaram essa velha conhecida em forma de samba, cantando um faceta da mulher que fica as vezes escondida, sim porque uma mulher para apanhar de um homem e continuar com ele tem que gostar.
E tem o outro lado da história que não se conta, as vezes vira fetiche e se torna um hábito do casal ter este tipo de relacionamento doentio.
Bom, doentio ou não o certo seria não ter violência, porque tudo que vai para esse lado acaba tomando rumos não muito agradáveis.
Mas isso devemos mais que exclusivamente a veinculação de imagens absurdas que quebram a aparente unidade da família. As imagens transmitidas que corrompem os bons costumes e ditam em mensagens subliminares os paradigmas que devem seguir uma sociedade.
"No ensaio sobre a relação necessária entre imagem/imaginário e violência, Maria Rita Kehl nos faz compreender que a violência da televisão não se encontra nos assuntos ou conteúdos veiculados por ela e sim na sua forma intrínseca, isto é, na imagem enquanto imagem, uma vez que esta é elaborada e transmitida de maneira não só a substituir o real, mas sobretudo para oferecer um suposto gozo imediato do telespectador e, com isso, impedir os processos psíquicos e sociais de simbolização, sem os quais o desejo não pode ser transfigurado e realizado e o pensamento não pode efetuar-se, isto é, a dúvida, a reflexão, a crítica, o diálogo encontram-se totalmente bloqueados. Paralisia do desejo no narcisismo, impossibilidade de simbolização e ausência de pensamento, a imagem televisiva, em sua imediateza persuasiva e exclusiva, só é capaz de propor e provocar atos sem mediação e é exatamente nisso que ela é violenta e sua violência transita livremente no interior dos indivíduos e da sociedade"
É incrível como vivemos e aceitamos tudo isso, desde as imagens mostradas na tv até mesmo uma cena cotidiana onde a mulher a ser agredida deveria agradecer por estar sendo salva, ela simplesmente pede que o seu salvador, por assim dizer, pare porque ela controla o seu homem, o fato de ele a agredir em público não a machucaria mais que o fato de perdê-lo, porque em sua mente completamente deturpada ela pensa que nenhum outro homem vai querê-la e que " um tapinha não dói" como já disseram os poetas do funk.
Inacerditável é pensar que a auto-estima desta mulher está mais baixa que o subsolo dos abrigos anti-aereos e que talvez nem chegue a recuperá-la e tem mais uma observação que deve ser analisada com muito cuidado.
Mesmo que ela termine este relacionamento, com certeza investirá em outro igual ou pior, porque não foi ensinada a ter amor próprio e o fim é sempre o mesmo.
Como já dizem por ai: Uma vez mulher de malandro, mulher de malandro até morrer.
(fonte : pessoas que realmente viveram esta situação e cujos nomes foram trocados; observatório da imprensa, com adaptações para este texto- Marilena Chauí e site de letras de música)

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